CPSA, 3 setembro 2024
Médicos devem privilegiar prescrição de inaladores com menor impacto ambiental
O Conselho Português para a Saúde e Ambiente associou-se a cinco sociedades médicas e uma associação de doentes para fazer recomendações sobre a redução do impacto ambiental dos inaladores em Portugal. Impacto ambiental em Portugal de inaladores pressurizados é superior a 30.000 toneladas de CO2eq. Seria necessário plantar anualmente mais de 1,3 milhões de árvores para capturar estes gases da atmosfera.
Os médicos devem privilegiar a prescrição de inaladores que não utilizam gases com efeito de estufa (GEE), de forma a reduzir a pegada ambiental destes dispositivos, e devem tomar sempre em conta, nas suas prescrições, o impacto ambiental de cada inalador, devendo para isso existir um mecanismo de alerta nas plataformas de prescrição.
Estas são duas das recomendações que constam de um artigo publicado hoje na revista Acta Médica Portuguesa intitulado “Recomendações para a Redução do Impacto Ambiental dos Inaladores”. O artigo, cujo primeiro autor é o médico internista Luís Campos, presidente do Conselho Português para a Saúde e Ambiente (CPSA), é um documento de consenso elaborado pelo CPSA em colaboração com sociedades médicas que representam as especialidades com maior volume de prescrição destes medicamentos, nomeadamente a Sociedade Portuguesa de Pneumologia, a Sociedade Portuguesa de Alergologia e Imunologia Clínica, a Sociedade Portuguesa de Pediatria, a Sociedade Portuguesa de Medicina Interna e a Associação Portuguesa de Medicina Geral e Familiar, além da associação de doentes Respira. Esta é a primeira publicação em Portugal que apresenta recomendações de sustentabilidade ambiental na área da Saúde, um setor responsável por 4,8% das emissões de GEE.
A pegada carbónica dos inaladores pressurizados tradicionais (pMDI) prescritos em Portugal foi estimada em 30.236 toneladas de dióxido de carbono, o equivalente a cerca de 0,84% das emissões totais do setor da saúde em Portugal e a aproximadamente 95% do total de emissões dos inaladores.
Em 2022, foram vendidos em Portugal 1 692 633 dispositivos pMDI. Apesar de as vendas de dispositivos pMDI em 2022 representarem pouco mais de 40% do total de mercado, o seu consumo tem vindo a aumentar, especialmente os que causam maior impacto ambiental.
O impacto carbónico destes dispositivos equivale à pegada de 150 viagens transatlânticas entre Londres e Nova York, e seria necessário plantar anualmente mais de 1,3 milhões de árvores para capturar estes gases da atmosfera.
Entre as recomendações publicadas, está ainda a implementação de estratégias para incentivar a devolução dos dispositivos usados nas farmácias e monitorizar o impacto destas recomendações e outras, de âmbito mais geral, que incluem priorizar a sustentabilidade ambiental em saúde como um critério em todas as decisões políticas e a todos os níveis do setor da saúde; introduzir critérios de emissões líquidas de GEE tendencialmente nulas nas compras, contratações e adjudicações públicas; incluir temas relacionados com ambiente e saúde nas reuniões científicas e na formação de todas as profissões de saúde; aumentar a literacia ecológica dos doentes e do público em geral e divulgar iniciativas e exemplos de boas práticas de sustentabilidade ambiental na Saúde.
Apenas cerca de metade dos médicos tem conhecimento do impacto ambiental dos inaladores
Durante o estudo foi realizado um inquérito a 348 médicos das especialidades envolvidas para avaliar o grau de consciencialização dos prescritores sobre o impacto ambiental dos inaladores. 52,3% dos médicos entrevistados afirmaram ter conhecimento sobre a pegada ambiental dos inaladores e 15% dos inquiridos identificaram erradamente os inaladores DPI como sendo os mais poluentes. Mais de 70% disseram não considerar aspetos ambientais ao prescreverem inaladores.
Esta recomendação relativa a inaladores é apenas a primeira de uma série de Recomendações de Sustentabilidade Ambiental em Saúde que o Conselho Português para a Saúde e Ambiente está a preparar para diferentes sectores, em conjunto com as sociedades científicas das diferentes áreas e os seus associados.
No mesmo número da Acta Médica Portuguesa é também publicado um editorial de Luís Campos, onde este apela a um maior envolvimento dos profissionais de saúde na luta contra as alterações climáticas e a degradação ambiental, como uma responsabilidade ética, na medida em que os fatores ambientais já são responsáveis por uma em cada quatro morte a nível global. Luís Campos já dinamizou um apelo semelhante a nível europeu, em 2022, publicado no European Journal of Internal Medicine, em nome das sociedades de Medicina Interna de 41 países, que fazem parte da Federação Europeia de Medicina Interna. Mais recentemente, em março de 2024, Luís Campos foi primeiro autor de um apelo semelhante, publicado simultaneamente em Portugal e Espanha, o qual reuniu as sociedades de Medicina Interna de todos os países de língua espanhola e portuguesa, num total de 29 países. Este é o primeiro consenso, em qualquer área da ciência, que reúne estas duas comunidades.