CPSA, 25 setembro 2024
CPSA alerta para o impacto dos plásticos no sector da saúde em Portugal
Blocos operatórios produzem mais de 200 toneladas de resíduos de PVC por ano
No Dia Nacional da Sustentabilidade, o Conselho Português para a Saúde e Ambiente (CPSA) lança um alerta sobre o impacto crescente dos plásticos no sector da saúde, destacando a estimada produção anual de mais de 200 toneladas de resíduos de PVC (policloreto de vinilo) nos blocos operatórios portugueses em 2023. Este número resulta de um estudo realizado por Gabriela Quaresma, no âmbito de uma tese de mestrado realizada na Faculdade de Medicina da Beira Interior que contou com o apoio do CPSA e a colaboração do Hospital CUF Porto e da empresa Cabopol.
Segundo o estudo, esses resíduos de PVC, provenientes de materiais médicos amplamente utilizados, estão a ser enviados para aterros sanitários devido a uma legislação obsoleta, com mais de 28 anos. A legislação atual considera como contaminados materiais estéreis, impossibilitando a sua reciclagem e sobrecarregando aterros que já operam perto do limite da sua capacidade.
O sector da saúde em Portugal contribui com 5% das emissões de gases com efeito de estufa do país, um valor superior à média europeia. A produção de resíduos plásticos representa uma preocupação adicional, uma vez que apenas 9% dos plásticos são reciclados globalmente. Estima-se que mais de 450 milhões de toneladas de plástico sejam produzidas por ano no mundo, agravando o problema da poluição ambiental.
Os plásticos, especialmente o PVC, contêm aditivos como ftalatos, conhecidos por terem impactos nocivos na saúde humana, incluindo aumento de doenças cardiovasculares, cancro e outras condições. Estudos recentes mostram que microplásticos e nanoplásticos já foram encontrados em tecidos humanos, como as placas de ateroma em doentes cardíacos, elevando significativamente o risco de enfarte do miocárdio, acidente vascular cerebral ou morte súbita.
O CPSA apela a uma urgente revisão da legislação portuguesa sobre resíduos hospitalares, de forma a permitir a reciclagem de materiais plásticos seguros e estéreis. Também defende a implementação de uma estratégia nacional que promova a redução do uso de plástico no sector da saúde e uma maior transparência sobre a constituição dos dispositivos médicos, incentivando a utilização de alternativas mais seguras e sustentáveis.
Com a regulamentação europeia a exigir que, até 2030, certas categorias de plásticos incluam na sua produção 30% de plástico reciclado, o sector da saúde em Portugal tem a oportunidade de adotar práticas de economia circular, vendendo os seus resíduos e beneficiando tanto o ambiente como a sustentabilidade económica do sector.